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[terça-feira, novembro 23, 2010]

Desabafo

Essa semana que se passou foi uma semana de descanso pra mim. Show da Gica sucesso, amigos queridos presentes, público pra lá de especial, pessoas que eu admiro profundamente e com as quais aprendi a ser quem sou. Foi lindo demais ver pessoas como Dedé Ribeiro - que me inspirou, me ensinou e ensina - uma grande referência pra a minha vida pessoal e profissional. Os guris da Pública, cujas músicas foram trilha da minha vida em tantos momentos, em outros uma inspiração, uma companhia, um alento. Minha priminha cotoca, Jesus, ela virou público, não é demais? A Rô, que sempre esteve do meu lado, me ajudou no momento mais difícil da minha vida. E meu filhote, que claro, é meu parceiro de todas as produções! Isso e muito mais, tantas pessoas que nem caberia num post só.
Queria aproveitar pra agradecer, muito, muito, muito ao público presente, foi lindo demais! E à equipe de primeira, que fez com que tudo acontecesse lindamente, num clima incrível de diversão. Nunca na minha vida tive um cronograma cumprido tão impecavelmente e isso é mérito de cada um que esteve envolvido nesta produção.

Bom, mas passada a correria imensa e as dificuldades diversas de produção, pude me atualizar dos jornais, dos acontecimentos e passei uma semana inteira grudada na TV. Vi todos os jornais pagos e abertos existentes e levei um susto ao constatar uma série de acontecimentos bizarros, que para mim, já eram coisa arcaica.
Tá certo que a nossa mídia é bem monotemática, quando uma coisa acontece - bum! – é só ela. Mas realmente a coisa tá ficando pesada. É a geração que não sabe ouvir um não, não sabe lidar com a frustração, não sabe respeitar o limite do outro. A geração imediatista, individualista, que se me incomodou, paft, eu elimino.

O marido que foi condenado por matar a mulher que não queria o casamento, a escritora que é detida em uma performance por DEZ [alô?] policiais, o goleiro que conseguiu levar uma renca atrás dele pra cumprir seus caprichos, a médica que não viaja com preto pobre, os guris que não andam na mesma calçada que bicha. Na mesma linha daqueles outros, que queimam índio, mas poxa, eles achavam que era só um mendigo. Assim como os outros que espancam faxineira, mas né, acharam que era uma puta. Pourra, tá difícil ser o que quer que seja!

Meus queridos amigos bem sabem o quanto eu tenho que lidar com a intolerância. Há quatro anos meu filho, de dez, sofre bullying por ter cabelo comprido. Ele não entende, foi criado num ambiente onde cada um é do jeito que é. Errei em não preparar o Davi para o preconceito, para a intolerância, para a falta de respeito. Errei e deixei ele exposto, triste, constrangido, enfurecido, frustrado.
Hoje em dia, por iniciativa nossa [dos pais e não do colégio, infelizmente, mas este assunto já está bem encaminhado e acho que agora a gravidade foi percebida] a situação está controlada. Mas os efeitos são permanentes. A posição do colégio foi a seguinte: "vamos acompanhar de perto, mas o Davi deve ser mais aberto, pois quando estes meninos o chamam pra brincar, ele não quer". Oi? Eu entendi bem? O cara passa o tempo todo atormentando o Davi, daí resolve fazer uma linha "ok, te aceito" e ele tem que ficar feliz e satisfeito por ter sido convidado pra brincar? Ah, ta. Dignidade, a gente se vê por aqui.
E outra, quando não é o cabelo dele que é comprido, é porque a mãe dele está careca, ou gorda, ou internada, ou a ponte que partiu. Qualquer motivo é motivo, quando o limite não é imposto da maneira correta, na hora correta. Impressionante o que falta de limites e de compaixão numa geração prestes a virar adolescente.

Me dei conta disso assistindo a infeliz mãe de um daqueles marginais que disse “não eduquei meu filho assim, não incentivei a ser homofóbico”. É; não incentivou. Mas também não incentivou a não ser. E o assunto é velado em casa, é velado no colégio, é velado na igreja.
Criança não nasce pronta, nem nasce marginal. Se ninguém fala nada aonde eles vão aprender a “não serem algo”?

É isso, a gente precisa aprender a conviver com as diferenças, ponto. Não existe isso de "é todo mundo igual".
“Não, não, o colega não é diferente, ele é igual só que tem síndrome de down”.
Não, ele É diferente E em síndrome de down. Entendeu, Davi? É todo mundo diferente e aí é que tá a graça da coisa!
“Ah... entendi! E ele sabe, mãe?”
Sabe, todo mundo sabe que é diferente um do outro. Nós dois somos diferente e tu sabe que é diferente de mim, né?
“Sei.”
Então, o colega também sabe que é diferente de ti.
“Ah, então tá.”
Pronto, simples assim. O grande segredo foi desvelado na maior serenidade e nem se falou mais nisso.
Agora, por que eu peno há quatro anos pra que meu filho possa ir pro colégio sem angústias apenas porque – numa uma singela homenagem ao pai - ele mantém o cabelo comprido?
Eu não entendo o porquê destes assuntos serem tão, tão velados. Criança de colégio particular não pode levar bronca, o incomodado que deve se enturmar com os outros e entender que isso é "coisa de guri". Me pergunto apenas o que será desta pobre criatura que atormenta até o sono do Davi.
Bom, provavelmente vai crescer e estourar uma lâmpada na cara de alguém.
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Quando eu achei que este post estava terminado, me vem a matéria do Fantástico. Ou seja, não tô louca, a semana foi punk meeeesmo!
A matéria fala tudo, tão de parabéns!



E pra ti que já viu o vídeo e tá pensando “que essa tonga da mironga tá abrindo o bocão?! Eu sou branco, rico, católico e hétero.”
Bom, eu também sou hétero, branca e não sou judia. Mas ó, eu moro do lado de uma sinagoga... bem poderia ser tu.

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